sexta-feira, 29 de abril de 2011

Oficinas de Produção Textual

Na oficina do dia 20 o tipo textual abordado foi o narrativo, o gênero romance, e a proposta foi que os alunos criassem um minirromance (soa esquisito, eu sei! mas está de acordo com a nova ortografia, podem acreditar!) sobre o tema "relações amorosas na atualidade".

Em breve colocaremos o minirromance escolhido por votação entre os petianos.

No dia 27 trabalhamos novamente em cima do tipo textual narrativo, no entanto, o gênero abordado desta vez foi a fábula. Produzimos fábulas estilizadas, onde os personagens, em vez de serem animais, deveriam ser objetos.

Uma fábula também será eleita para vir parar aqui.

Aguardem...

Enquanto isso, aproveitem mais uns contos!

Tema: Primeira viagem de avião

"Estava chegando o dia da formatura de seu filho mais novo, e seu Vicente já estava arrumando sua mala de couro e antiga; ela estava sobreposta na cama. Ele, de maneira apressada e desordenada, colocava suas roupas na mala. Duas calças sociais e uma calça de pijama, uma camisa social branca e duas camisetas de algodão. Pegou no fundo do armário um, o embrulho muito bem embalado guardava de maneira segura o seu estimado terno. Era o terno que usou em seu casamento e na formatura de sua filha, agora o usaria em outra ocasião muito especial, a formatura de seu filho caçula. Assim que terminou de arrumar sua mala, seu Vicente percorreu sua pequena casa de alvenaria, à procura de seus sapatos. Encontrou-os atrás de um móvel que estava na pequena e aconchegante sala, sustentando os retratos de seus três filhos, dois meninos e uma menina, e também, o retrato de sua amada esposa que já não mais estava neste mundo. Abaixou-se, e com esforço se esticou para pegar seus sapatos. Assim que os pegou, levantou-se de maneira brusca, esbarrando com força no móvel, derrubando um retrato de toda a sua família.
         O porta retrato caiu no chão e quebrou-se. Quando seu Vicente olhou para a foto no chão, seus olhos encheram de lágrimas e, de maneira imediata, suas memórias do dia em que o retrato fora tirado emergiram em seus pensamentos. Suas lembranças foram interrompidas pelas buzinas e gritos de sua filha, que o alertavam de seu atraso. Calçou seus sapatos ligeiramente, pegou a foto, foi até o quarto, pegou que estava sobre a cama, dirigindo-se para a porta. Passou rapidamente pela cozinha, e pegou uma pasta que se encontrava em cima da pequena mesa de madeira rústica, a qual ele mesmo fez há 30 anos. Colou a foto na pasta de papel, colocando-a em baixo de seu braço esquerdo e, com a mão direita, pegou sua mala e saiu pela porta da frente.
         Colocou sua mala no porta mala do carro, entrou no carro sentando-se no banco de trás com seus dois netos, os quais os beijavam e o abraçavam. Seguiram para capital, onde iriam até o aeroporto para irem de avião até o Rio de Janeiro.
         Quando seu Vicente chegou no aeroporto de Guarulhos, assustou-se com o barulho e o tamanho dos aviões que ali chegavam e saíam constantemente. Enquanto sua filha e o marido foram retirar as passagens, ele ficou com os netos sentados nas cadeiras de espera. Seu Vicente estava tentando concentrar-se nas crianças, para não pensar no momento que entrariam no avião. Era a primeira viagem de avião de seu Vicente, e ele estava muito nervoso, suas mãos estavam sobrepostas sobre seu joelhos, uma em cada joelho. Suas mãos estavam frias e o suor começou a escorrer por seu rosto, seus pensamentos e olhares estavam fixos nos aviões que a todo o momento chegavam e saíam. Em sua mente começaram a surgir imagens de todos os acidentes aéreos que ele já teve notícia, sua respiração estava ofegante, seus batimentos cardíacos aumentaram. Então, o grito de seu neto mais novo, de dois anos, que acabara de cair da cadeira, o tirou de seus pensamentos. Quando seu Vicente viu o sangue que escorria do supercílio do pequenino, entrou em um profundo desespero. Sua filha, ao ouvir seus gritos, correu imediatamente. Todos foram para o posto médico dentro do aeroporto, onde o menino recebeu os primeiros socorros. Como seu Vicente estava muito agitado, a enfermeira achou melhor dar-lhe um calmante. Após o garoto receber os cuidados médicos, dirigiram-se ao saguão do aeroporto para enfim serem encaminhados para a zona de embarque.
         Quando entraram no avião, a preocupação de Seu Vicente com seu Neto era tamanha, que se esqueceu de todo o seu pavor em viajar de avião. Ao sentar-se ao lado de seu netinho que estava pegando no sono, o calmante que haviam lhe dado, começava a fazer efeito. Assim, seu Vicente entrou pegou num sono profundo, e em seus sonhos a imagem de toda a sua família junta permaneceu constantemente até ser acordado por sua filha, que o informava que a viagem já tinha chegado ao fim, e eles já estavam no Rio de Janeiro."

Letícia Lemes


Tema:  Último dia no emprego

"A menina bem arrumada com seu uniforme social ía mais uma vez encarar uma longa jornada de oito horas de trabalho. Pensava, como em alguns outros dias, que teria que aturar o chefe novamente. Aquele empregador nunca via nada perfeito na empresa. Reparava nas unhas das funcionárias, se o uniforme estava limpo e passado e opinava até se o novo corte de cabelo não o agradava. Era conhecido na empresa como 'o intragável'.
A menina conhecida como Pati era vista como uma pessoa muito boa. Gostava realmente de ajudar os outros. Em momentos de discussões entre funcionários, conseguia fazer com que tudo ficasse bem. Ouvia fofoquinha daqui e dali e sempre ficava quieta, fazendo com que as intrigas nunca se espalhassem. Era tão doce que logo que entrou na empresa, todos os funcionários desconfiaram de sua bondade. Diziam: “Não é possível alguém ser assim. Alguma coisa ela está tramando”. Porém, nunca encontraram defeitos que assim a caracterizassem. Logo a conheceram e viram que, realmente, ela era diferente.
O chefe visitava a empresa pelo menos uma vez por mês para ver seu andamento. Fazia isto por ser um homem de negócios e atarefado com suas outras quatro unidades. No total, ele cuidava de cinco escolas de idiomas em cinco bairros diferentes do Rio de Janeiro. Costumava chegar de surpresa, mas excepcionalmente este dia, avisou que visitaria a escola na quinta-feira, dia 16 de fevereiro, para dar treinamento, como de costume, aos seus funcionários.
Naquele dia todas chegaram bem cedinho. Prepararam um coffee break para receber o patrão e os funcionários das outras escolas que viriam com ele. Dispuseram-lhes uma mesa recheada de gostosuras e diversos tipos de suco. Bolos, biscoitos, pães, queijo, presunto, chocolates. Todas essas guloseimas encontravam-se arrumadas e prontas para rapidamente serem consumadas. Seria a recepção perfeita.
O chefe chegou quase quarenta minutos atrasado. Seus colaboradores o esperavam ansiosos, pois nunca sabiam com o que ele viria. Sabiam apenas que viria, como sempre, mal arrumado. Tinha por volta de quarenta anos, mas vestia-se como se tivesse quinze. Ia sempre com um tênis branco que já estava encardido. Andava com as roupas furadas e achava que estava na moda. Usava cordões de prata que nunca combinavam com sua roupa e geralmente vestia calças compridas já ultrapassadas. Chegou a ser confundido com um pedreiro um dia. Sua aparência nunca o denotava como um homem rico e de negócios. Entretanto, era assim que se sentia feliz.
Naquela manhã, todos se deliciaram com o café da manhã preparado por elas, inclusive ele. Não sobrou quase nada no final. Porém, a singela recepção não obteve o êxito esperado. O empresário, apesar de não parar de comer, só reclamava do havia na mesa. Dizia que poderia ter sido melhor e que da próxima vez faria em outra escola. Ria, zombava e comia de tudo o que lhe era disponível ali.
Depois que todos comeram, foram para a sala de treinamento. Ele, com todo poder em suas mãos, escolheu a melhor sala e com o auxílio de um quadro começou a dar informações importantes aos funcionários. Andava de um lado ao outro, rodopiava, dava dinheiro aos colaboradores. Gostava de se sentir como um apresentador de televisão. Um pouco medíocre, mas era assim que aparecia. As únicas pessoas que não se divertiam no espetáculo eram as que trabalhavam naquela unidade, especialmente Pati, que a todo o momento estava séria. Parecia estar enfurecida, como nunca visto antes desde que começou a trabalhar lá.
Apesar de ter recebido uma premiação em dinheiro, não estava feliz e, no fundo, já sabia que aquele dia talvez não seria um dia de trabalho normal.
Dirigiu-se ao patrão no final da reunião. Naquele momento sua voz estava trêmula. Ficava assim quando nervosa. Não era por medo, nem por vergonha. Era por raiva. Questionou, juntamente com suas duas colegas de trabalho o porquê da não-premiação de um amigo, que não estava presente na reunião. Indagou que ele era esforçado e merecia ganhar também. Justificaram a falta do amigo. Ele, por sua vez, não recebeu palavra alguma. Ficou sério, falou alto, discutiram todos em tom baixo. Cada um opinava a respeito, mas a palavra final sempre era a do empregador.
O jogo de opiniões só acabou quando Pati, com as mãos nos bolsos, séria, trêmula e com uma voz bem suave o respondeu. Debochou com toda a sutileza de um comentário do patrão. Virou as costas e desceu as escadas, deixando todos espantados. Ninguém nunca esperou uma atitude dela desse tipo.
Em cinco minutos foi demitida por telefone pela coordenadora do departamento pessoal. Nunca se arrependeu daquele ato."
  
Patrícia Oliveira de Freitas

Petiana Camilla Trajano (Letras - Português/Literaturas)

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